2.3.08

Tudo o Que Temos

"Dez anos atrás, as companhias queriam de nós uma estratégia digital. Agora, querem uma estratégia ecológica.
Chris Hunter

Quase todos os dias em que ligamos a tevê, lemos um jornal ou acessamos a internet, nos deparamos com novos anúncios das mais recentes façanhas ecológicas de determinadas empresas. Trata-se de investimentos oriundos do setor financeiro, promessas de diminuição do gasto energético de indústrias ou preocupação com infra-estruturas mais adequadas à demanda ambiental.

Yahoo! e Google, por exemplo, chegaram a afirmaram que seus escritórios e centros computacionais não mais emitirão carbono a partir deste ano. No Brasil, a Ypê diz que investirá no plantio de milhares de árvores que compõem o bioma da mata Atlântica. Estas e outras iniciativas foram motivadas pela constatação de que uma postura empresarial voltada aos problemas ambientais seria bem vista e ainda poderia sair barata e lucrativa.

Mas alguns empreendimentos ecológicos são simplesmente inviáveis pecuniariamente, o que vem aumentando a frustração de vários ramos da sociedade. A Johnson & Johnson, que anunciou uma redução de 17% nas emissões de gases-estufa desde a década de 1990, obteve como saldo final apenas um crescimento de 24%. É evidente que reinam hipérboles e utopias. Uma mudança radical de postura por parte destas empresas é exigida, e sem real esforço, raramente atingida.

Algumas medidas parecem ser possíveis ou já estão sendo executadas, entretanto. O Bradesco, maior banco privado do Brasil, apesar de ser alvo de críticas recentes pela não-cessão das bolsas de estudo tão requeridas pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, vem adotando uma série de iniciativas exemplares. A partir da criação do chamado Banco do Planeta, que tem logotipo e funcionários próprios, tal empresa já lançou o primeiro cartão de crédito feito de plástico reciclado do país, e cuja parte do lucro será repassado à Fundação Amazônia Sustentável.

Apesar de ainda haver a preocupação com o comprometimento a longo prazo, tais medidas são tudo o que temos. Até que possamos ter mais, ou que surja uma solução desvinculada do capitalismo e realmente eficaz – o que é difícil, se não uma utopia - só podemos agradecer. Afinal, por quais forem seus reais propósitos e por mais limitadas que sejam as dimensões de suas atitudes, ainda há alguém que deixe de falatório e tenha atitudes realmente concretas.


"A idéia de que posturas ecológicas são divertidas, fáceis e baratas é perigosa. Ser verde implica trabalho duro. A coisa toda é complexa. Nem sempre lucrativa. E as companhias precisam inaugurar o placar e passar efetivamente a fazer algo."
Auden Schendler

(Texto originalmente publicado n'O Irrevogável, em 6 de fevereiro de 2008.)

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